Entrevista - Antonio e Nair Capelatto

Antonio e Nair Capelatto residem na região do assentamento Rural Bela Vista do Chibarro muito antes de sua fundação. O latifúndio que hoje abriga cerca de 200 famílias antes era uma usina de cana-de-açúcar sustentada por vários plantadores de cana, como o pai de Antonio. Com a falência da usina, logo houve a desapropriação e a Reforma Agrária e a família de António fico com um terreno de cerca de 6 hectares.

Hoje, os Capelatto moram em uma casa modesta produzindo manga, abacaxi, milho e outros alimentos que são colhidos com a ajuda do sobrinho de Antonio e às vezes, por homens contratados. Contam que “A terra fica cada vez mais difícil de trabalhar” e que eles não têm autonomia para plantar o que desejam e não podem discutir o preço dos produtos que vendem. “De certa maneira, somos manipulados” afirma Antonio.        

No entanto, a família diz que a saúde no assentamento é boa. O médico e o dentista estão na região todo dia e são qualificados. Completam, por final, que apesar das restrições em relação ao plantio, eles gostam de morar em Bela Vista do Chibarro. “Aqui é uma delícia”.

Entrevista - Cacilda Teixeira

    Cacilda Teixeira, 59 anos, morava em São Paulo e se mudou para o Assentamento Bela Vista do Chibarro em 1989, quando seu marido, que acompanhava a Reforma Agrária no Brasil, se cadastrou para residir em tal local. 

    No início ela tinha 6,6 alqueires para plantar, porém hoje só tem 3,3, pois dividiu suas terras com a filha. Ela planta arroz, feijão e cana, a ultima predomina, chegando a ser plantada em três dos seus alqueires. Cacilda plantou 7 mil reais e lucrou 8 mil reais nos últimos meses. 

    Sobre o governo, Cacilda disse que o estado libera certa quantidade de dinheiro para o assentado investir, porém tal quantia não é suficiente então o dono da terra tem que se ajustar, sendo pedido dinheiro emprestado do banco ou investindo seu lucro. Por Cacilda ter uma idade elevada, suas terras tem que ser herdadas por seus filhos e se eles não tocarem, o INCRA dá para outra família. Ela afirmou que o INCRA abandonou o assentamento durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso. 

    Teixeira mencionou que antigamente a produção era mais sacrificada, porém tinha união entre os assentados e hoje em dia, apesar de a produção ser menos sacrificada é cada um por si e existe conflitos entre os assentados. 

    Alem disso Cacilda falou sobre o MST  “As pessoas confundem o vandalismo com o MST. Acredito que o MST não quebra, isso é vandalismo” 

    E sobre o assentamento Cacilda Teixeira disse que tem orgulho do lugar onde mora, pois tem uma boa escola e uma boa infra-estrutura.

Entrevista - Adriana Aparecida Alves Barbato

        Adriana Aparecida Alves Barbato vive no assentamento Bela Vista do Chibarro com seu marido e três filhos, sendo que dois de seus filhos nasceram no local. Ela é originaria do Paraná e se mudou para São Paulo em busca de emprego e uma vida melhor, dentro do assentamento ela se mudou de casa, ela vivia em uma região periférica e passou a viver perto da escola do local, uma região mais central do assentamento.

        Adriana planta em seu terreno verduras, legumes e frutas em uma estufa que acelera a produção. Ela não faz monocultura, assim não prejudica tanto o solo de seu terreno, sendo assim Aparecida pode plantar mais vezes durante o ano e lucrar mais, ela disse que planta mais de 8000 mudas de maracujá por plantio.

        Sobre sua economia familiar, Adriana disse que o INCRA financia boa parte de seus investimentos para a produção alimentícia e vende os produtos para fora do assentamento por meio de uma feira.

        Adriana disse que não pretende sair do assentamento mais tem sonhos dentro do local, porem, tais sonhos são pequenos. Seu filho maior, de 8 anos , não sabe se quer continuar o trabalho do pai ou sair do assentamento e trabalhar em alguma cidade, por ser pequeno ele tem uma opinião que oscila, uma hora quer ser medico, outra professor, outra agricultor.

        A maior critica feita por Aparecida foi sobre o lazer local, enquanto seu filho tem como única atividade de diversão o futebol, crianças das cidades próximas tem atividades extracurriculares em escola publicas, como dança, canto, capoeira. Ela reclamou que mesmo não tendo essas atividades no assentamento, o estado podia disponibilizar transporte publico para as crianças assentadas irem até as cidades e fazerem essas atividades proporcionadas pelas escolas.

Análise

    A partir das entrevistas coletadas no Assentamento Rural Bela Vista do Chibarro, foi possível compreender melhor o funcionamento de um assentamento e suas diferenças em relação às características de um acampamento ilegal. 

    A primeira e imediata constatação foi que, apesar de possuir melhores condições em relação aos moradores do acampamento, a vida dos assentados não é fácil. Isso, pois todos eles tiveram que começar e a ajuda do estado a que passaram a ter direito não passa de um empréstimo, e de valor muito limitado. Deste modo, o agricultor assentado, que tem a obrigação de manter a terra produtiva, encontra dificuldades para fazê-lo, uma vez que não há muito dinheiro para investir e os gastos não são pequenos.

    Apesar disso, é visível que os assentados entrevistados estão muito satisfeitos com a vida no assentamento. Lá, eles têm acesso à energia elétrica e água encantada, além de uma escola, que ajuda a unir os moradores do local. A principal reclamação deles é a falta de lazer, que incomoda principalmente os jovens.

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